A patela, antigamente conhecida como rótula, é o osso da frente do joelho, responsável pela transmissão da força da musculatura da coxa. Em algumas situações, esse osso pode se deslocar para fora de seu local normal, a chamada instabilidade patelar ou luxação da patela.
Imagem clínica de patela luxada, visivelmente deslocada de sua posição natural
Se a luxação da patela ocorreu pela primeira vez, é chamada de primo luxação da patela. A partir do segundo episódio, ela passa a ser chamada de luxação recidivante da patela.
Quando ocorre a luxação da patela, há dor intensa e incapacidade de mobilização do joelho. É possível ver e sentir que a patela saiu de seu lugar.
Na maioria das vezes, a patela volta sozinha para o lugar quase que imediatamente. Raramente, é preciso que um médico a coloque no lugar, com uma manobra de extensão do joelho.
Após uma luxação da patela, pode haver sensação de insegurança com o joelho, mesmo sem a patela sair francamente do lugar. Esta sensação é chamada de apreensão patelar. É um sintoma muito incômodo, que pode atrapalhar atividades normais.
A luxação da patela de seu sulco no fêmur, com desvio para lateral (lado externo)
A luxação da patela pode ocorrer por um trauma, como uma pancada ou torção do joelho, ou sem trauma, em um movimento comum da articulação.
Algumas pessoas têm características do joelho que favorecem a luxação da patela. Entre as principais, estão:
Patela alta, a esquerda, comparada com altura patelar normal, à direita
Sulco da tróclea do fêmur normal (à esquerda) ou plano (à direita)
Alinhamento do joelho em valgo
O ligamento patelofemoral medial é a estrutura que evita a luxação da patela. Quando há o deslocamento da patela, ele é lesado ou afrouxado.
Quando é realizado o tratamento sem cirurgia da luxação da patela, o que se espera é que haja cicatrização deste ligamento. Já no tratamento cirúrgico da luxação da patela, a reconstrução do ligamento patelofemoral medial é realizada na maioria dos casos. Saiba mais sobre os tratamentos da luxação de patela abaixo.
O diagnóstico da instabilidade da patela é feito através de uma avaliação cuidadosa da história clínica e do exame físico do paciente, complementados com exames de imagem.
O principal exame a ser avaliado é a ressonância magnética, que mostra sinais indiretos de uma luxação, lesão do ligamento patelofemoral medial e as alterações anatômicas que favorecem a instabilidade. Além disso, a ressonância é essencial para buscar lesões de cartilagem. Outros exames, como radiografias em posições especiais e tomografia computadorizada são úteis para avaliação do formato do joelho e fatores predisponentes.
No caso do paciente episódio de luxação da patela é possível tanto o tratamento não cirúrgico, como o tratamento cirúrgico. A decisão por um ou pelo outro deve ser individualizada, após discussão detalhada entre paciente e médico.
O tratamento não cirúrgico envolve imobilização por um período, seguido de reabilitação focada em exercícios de fortalecimento e controle da musculatura da coxa e quadril. O objetivo de um tratamento não cirúrgico bem sucedido é a ausência de novos episódios de luxação e da apreensão patelar, a sensação de desconforto ou falseio causada pela instabilidade.
São situações que indicam o tratamento com cirurgia da luxação da patela:
Já pacientes com um único episódio de luxação, apesar de poderem ser tratados sem cirurgia, podem também optar pelo tratamento cirúrgico. A cirurgia tem como vantagem uma menor chance de novo deslocamento ou sintomas de apreensão para atividades.
Existem vários procedimentos disponíveis para a instabilidade patelar, que são escolhidos de acordo com as características de cada paciente, podendo haver combinação de procedimentos. Esse conceito de tratamento individualizado é conhecido como tratamento à la carte, pela influência da escola francesa.
São os procedimentos mais comuns realizados para luxação da patela
Lesão do ligamento patelofemoral medial
Transferência da inserção do tendão patelar através da osteotomia tibial
Os cuidados pós-operatórios dependem da técnica utilizada. Em geral envolvem um período de apoio com muletas e um imobilizador para o joelho. Porém, desde o início já é permitido apoiar o pé no chão e retirar o imobilizador para mover o joelho na maioria das situações. A reabilitação inclui restabelecimento da mobilidade do joelho e da força e do controle da musculatura da coxa, quadril e tronco.
Referências
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